quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Num minuto ele está feliz e no outro é pura irritação

          A mudança repentina de humor é normal na fase em que o pequeno ainda não desenvolveu controle sobre as emoções.


          Não é mau humor. Para pais e mães que têm em casa criaturas que alternam asinhas de anjo com bicões de tucano em questão de segundos, os estudiosos do comportamento infantil fazem um alerta: aos dois anos, a criança está apenas começando a desenvolver habilidades emocionais e as mudanças repentinas de humor são a prova de que ela ainda não tem controle sobre as próprias emoções. Elas vêm e passam rapidamente e costumam ser vivenciadas com intensidade exagerada. Comuns, esses rompantes não significam que o pequeno tem temperamento ruim ou que será, no futuro, ranzinza como o Zangado, aquele anãozinho da Branca de Neve. Nessa idade, é normal a criança alternar instantes de extrema irritação com momentos em que só quer o aconchego da dupla colo-chupeta. Às vezes aceita cordialmente um "não", outras vezes ele soa como uma declaração de guerra. É a fase dos sentimentos ambivalentes: ao mesmo tempo em que é movida por impulsos de independência, a criança depende por completo da mãe, e essa é uma contradição complicada de administrar. Significa que a criança está se deparando, não pela primeira vez mas de forma mais consciente e freqüente, com uma velha conhecida dos adultos - a frustração.

          Testando regras. Frustração, claro, é sempre desagradável, e o grau de reação a ela é inversamente proporcional ao tamanho da criança: quanto menor ela for, mais intempestivamente poderá reagir. Com um ano, por exemplo, ela não tem a mínima autocensura para perceber se está passando dos limites consigo própria ou com os outros. Mas por volta dos dois, ao perceber pela reação dos pais que algumas de suas atitudes são aceitas e outras não, vai aos poucos aprendendo a conter ou a valorizar as emoções. Provocar os adultos, então, é o recurso que ela encontra para descobrir e confirmar até que ponto pode ir. É uma espécie de teste, e seria um erro imaginar que ela está simplesmente sendo chata ou fazendo manha.
          
          Corpo e fala. É bom lembrar, também, que as flutuações emocionais dos pequenos podem ser derivadas de sua limitada capacidade de se comunicar e realizar certas tarefas. Aos dois anos, o vocabulário da criança ainda é restrito e ela pode se enfurecer de um minuto para o outro simplesmente porque não consegue explicar com clareza o que quer. Da mesma forma, já demonstra interesse em tirar ou vestir a própria roupa, mas freqüentemente se sente irritada diante da falta de jeito para cumprir essa tarefa. Nesses momentos, os pais têm ótimas oportunidades para ensinar a criança a educar suas emoções. É hora, por exemplo, de ensiná-la a reconhecer os sentimentos, explicando algo como "você está com raiva porque não sabe como vestir a blusa, mas é normal. Às vezes, eu também fico assim quando não consigo resolver um problema. A gente precisa treinar para aprender". Atitudes como essas são benéficas porque mostram à criança que ela pode sentir raiva e que outras pessoas também têm o mesmo sentimento. É uma forma de ensinar, na prática, o conceito de empatia - a habilidade para identificar-se com as emoções dos outros, fundamental para os relacionamentos sociais. Mas além dos pais falarem dos próprios sentimentos, cabe a eles oferecer alternativas na hora da crise: "Olha, parece que essa outra camiseta é mais fácil de vestir. Por que você não experimenta?" Aqui, uma nova mensagem entra em cena, ensinando à criança a não ficar imobilizada pelas próprias emoções.

          Ponto de equilíbrio. As reações dos pais ao comportamento dos filhos são fundamentais para a educação emocional dos pequenos, porque é com elas que eles aprendem a se relacionar com pessoas e situações. Se o que prevalece em casa é a atitude de ceder diante da birra ou choradeira, é natural que a criança passe a usar o beicinho e as lágrimas para impor suas vontades. E se um bom escândalo chama a atenção de todo o mundo e ajuda o baixinho a conseguir o que quer, por que não repetir a fórmula que deu certo? Crianças que têm suas vontades satisfeitas dessa maneira tornam-se, essas sim, verdadeiras tiranas, com dificuldade, mais tarde, para lidar com regras e limitações, seja em casa, na escola ou em qualquer outro lugar. Já os pequenos que desde cedo têm claros os seus limites ultrapassam rapidamente essa fase, porque são estimulados a descobrir outros meios de negociar seus desejos.

          O desafio dos pais. Para o garotinho ou a menina em plena fase de descobertas, cada pequena conquista dá prazer e cada fracasso, por menor que seja - como não conseguir encaixar uma peça no quebra-cabeça -, gera insatisfação. Daí decorrem todas as outras emoções que a criança experimenta e que a fazem avançar ou empacar diante das dificuldades. O desafio dos pais é ensiná-la a manejar os sentimentos, principalmente os negativos, porque eles também funcionam como alavancas para o desenvolvimento emocional. E para transformar esse percurso numa aventura atraente para toda a família, há uma lição básica e permanente: jamais subestimar as emoções, venham elas de onde vier - dos adultos ou das crianças.


Emoções nas brincadeiras

          Faz de conta que eu sou a mamãe e você é a filhinha ou faz de conta que você é um cachorrinho e eu sou seu dono... Nessa eterna brincadeira da infância, a criança vive e resolve conflitos do cotidiano que nem sempre consegue expressar ou identificar. O "faz-de-conta" pode ser, por isso, um ótimo recurso para ampliar o horizonte emocional dos baixinhos, passando-lhes informações sobre os sentimentos relacionados a ações. Se os pais não têm muito jeito para se envolver com a criança nesse teatrinho, interpretando eles mesmos os personagens, podem recorrer aos livros infantis ou ainda utilizar os brinquedos da casa (bonecos, bichinhos de pelúcia) para encenar com os filhos diferentes versões das histórias. Esse é um jeito agradável e simples de passar "recados", saber o que se passa na cabecinha da criança e ficar mais próxima dela. 


Créditos: Revista crescer

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